POLÍTICA
Entenda por que Bolsonaro é julgado no STF e Lula foi na 1ª instância

As mudanças nas regras de aplicação do foro por prerrogativa de função, popularmente conhecido como foro privilegiado, são a principal razão para que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) esteja sendo julgado diretamente no Supremo Tribunal Federal (STF), enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrentou acusações na primeira instância durante a Operação Lava Jato. A interpretação do STF sobre quando e como essa prerrogativa se aplica tem sido alterada ao longo do tempo, impactando diretamente a competência dos julgamentos de autoridades públicas .
Historicamente, o entendimento do foro privilegiado no Brasil passou por diversas modificações. Em 2018, o STF restringiu essa prerrogativa, decidindo que inquéritos e processos criminais envolvendo autoridades só deveriam tramitar na Corte se os crimes tivessem relação com o exercício do mandato e fossem cometidos durante ele. No entanto, esse entendimento foi novamente alterado em março de 2025 (conforme o texto fornecido), estabelecendo que o foro privilegiado continua valendo quando os crimes foram cometidos durante o mandato e em razão da função pública, mesmo após a saída do cargo. Essa mudança recente consolidou a permanência da competência do STF para crimes funcionais, mesmo após o término do mandato .
À época da Operação Lava Jato, quando Lula enfrentou acusações como a do tríplex do Guarujá, o entendimento do STF era de que o foro privilegiado deixava de valer quando a autoridade saía do cargo. Como Lula era ex-presidente na ocasião, seus processos foram remetidos à primeira instância, especificamente à 13ª Vara Federal de Curitiba, sob o comando do então juiz Sérgio Moro. Posteriormente, as condenações de Lula foram anuladas pelo STF por questões de competência e parcialidade do juiz .
O caso de Jair Bolsonaro é distinto, pois as investigações tratam de atos supostamente ligados diretamente ao exercício da Presidência, como a liderança de uma organização que teria tramado para mantê-lo no poder após as eleições de 2022. Dois dos crimes imputados são contra o Estado Democrático de Direito. Com a recente mudança de entendimento do STF, que mantém a prerrogativa de foro para crimes cometidos durante o mandato e em razão da função, mesmo após o término do cargo, a competência para julgar Bolsonaro permanece na Corte Suprema .
O foro por prerrogativa de função não é um benefício pessoal, mas uma garantia para o cargo público, visando proteger a instituição e o exercício da função de perseguições políticas ou pressões em juízos de primeira instância. Entre as vantagens de um julgamento no STF, destacam-se a celeridade do processo e a análise por ministros experientes. Contudo, a principal desvantagem é a ausência de instância superior para apelação, tornando o julgamento de mérito definitivo pelo próprio STF. A percepção pública, no entanto, é frequentemente crítica, vendo o foro como um “privilégio” que cria uma “justiça para os poderosos”, especialmente em casos de alta repercussão que se arrastam ou resultam em prescrição .
