POLÍTICA
Filhos de Lira e de assessor alvo da PF intermediaram negócios na Saúde, diz jornal
Os filhos do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e de Luciano Cavalcante, alvo da Polícia Federal, representam empresas de mídia que receberam cerca de R$ 6,5 milhões em campanhas publicitárias do Ministério da Saúde. Cavalcante é investigado por desvios em contratos de kits de robótica.
Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, Arthur Lira Filho, de 23 anos, e Maria Cavalcante, de 25, são sócios da Omnia 360. empresa que negocia a distribuição de campanhas publicitárias do governo com veículos de mídia, como outdoors ou na internet.
A empresa de Arthur Filho recebe uma parcela do pagamento feito pelas agências contratadas pela pasta para essas empresas de mídia. O valor é combinado entre a Omnia e o veículo representado, de acordo com o jornal.
Empresa
Lira Filho e Maria Cavalcante fundaram a Omnia em 2021, juntamente com a publicitária Ana Magalhães. Segundo a empresa disse à Folha de S. Paulo, a Omnia “é uma representação de veículos de mídia como dezenas que atuam no mercado publicitário em Brasília”. A empresa afirmou que nem Lira nem Luciano Cavalcante interferem nos negócios.
Os clientes da Omnia receberam R$ 3,09 milhões por campanhas publicitárias do Ministério da Saúde em 2021 e mais R$ 3,24 milhões no ano seguinte, segundo o jornal.
Os mesmos veículos receberam R$ 235 mil em 2023, o primeiro ano da gestão de Lula. Esses valores foram divulgados pelo Ministério da Saúde em resposta a um pedido feito pela Folha de S. Paulo por meio da Lei de Acesso à Informação. A Folha descobriu, também por meio da Lei de Acesso à Informação, as reuniões no Ministério da Saúde em que o filho de Lira e sua sócia participaram.
Lira Filho esteve presente em pelo menos quatro reuniões para apresentar clientes ao setor de comunicação do Ministério da Saúde. Três dessas reuniões ocorreram em 2021, e a última foi em abril de 2023. Já Maria Cavalcante esteve no mínimo oito vezes no Ministério da Saúde desde 2021.
De acordo com o Ministério da Saúde, os pagamentos foram feitos a duas empresas representadas pela Omnia: a OPL Digital recebeu cerca de R$ 3,8 milhões, enquanto a RZK Digital recebeu R$ 2,74 milhões. Representantes de ambas as empresas também participaram de algumas das reuniões na sede do Ministério da Saúde.
A OPL veicula campanhas publicitárias em celulares, entre outros serviços. A empresa afirmou que a Omnia recebe 15% dos valores líquidos negociados com as agências do governo, uma porcentagem padrão para todos os representantes da empresa em todo o Brasil.
A empresa também afirmou que a Omnia foi selecionada “após uma escolha técnica”, sem nenhuma outra motivação.
A RZK exibe propagandas do governo em painéis de LED. A empresa disse que segue a prática comum do mercado de atuar por meio de representantes comerciais em áreas onde não possui escritórios, como Brasília.
A empresa afirmou que realiza “rodadas técnicas de apresentação” de seus produtos e que participou de encontros com representantes do Ministério da Saúde nesse sentido.
Críticas
Em nota à Folha de S. Paulo, Arthur Lira disse que “não há nada de errado no desenvolvimento funcional da empresa do meu filho, e muito menos ingerência minha na sua atividade empresarial”. Ele ainda criticou o jornal por “fazer associação sobre fato político inverídico, no caso solicitar ao Ministério da Saúde, com interesses pessoais, é especulativa, descabida, irresponsável e criminosa. E assim será tratada nas instâncias jurídicas, se for publicada com esse foco”.
Lira também disse que “as ilações feitas pela Folha de S.Paulo não são jornalismo”. “Aliás, isso é o antijornalismo.”
Alvo da PF
Luciano Cavalcante, pai da sócia do filho de Lira, foi exonerado do cargo que ocupava na liderança do PP na Casa após ser alvo da PF.
Cavalcante foi alvo de busca e apreensão realizada em 1º de junho dentro de investigação sobre supostos desvios em contratos de kits de robóticas custeados pelo FNDE no governo de Jair Bolsonaro (PL). As aquisições dos kits foram reveladas pela Folha em 2022.
O advogado André Callegari, que defende Cavalcante, afirmou que o auxiliar de Lira “não faz parte dos quadros societários da empresa [Omnia]”. “De modo que jamais atuou em benefício dela, seja no âmbito público ou privado.”
A Omnia afirmou, em nota, que “faz parte de sua rotina agendar reuniões nos clientes e no trade publicitário para apresentar as soluções dos veículos por ela representadas, com diversos clientes”.
O Ministério da Saúde afirmou que seleciona veículos que compõe as campanhas publicitárias de acordo com regras do governo e critérios técnicos, como alcance e audiência. “São escolhidos os veículos capazes de gerar melhor e mais adequada visibilidade para cada mensagem proposta em campanhas publicitárias”, disse a pasta.
A Saúde disse que não há tratamento diferenciado a empresas de mídia e que as reuniões com os representantes são comuns. “Essas reuniões fazem parte da rotina da área publicitária e, em média, são atendidas cerca de 15 empresas por semana.”