POLÍTICA
Governo ameaça aliados para barrar anistia do 8 de Janeiro

O governo Lula enfrenta uma crise política com a crescente pressão pela anistia aos presos dos atos de 8 de janeiro. A oposição, com o apoio de 262 deputados, protocolou um requerimento de urgência para a aprovação do projeto de lei, colocando o governo em uma posição defensiva e acirrando a disputa pelo controle do Congresso.
A estratégia do governo é clara: pressionar parlamentares da base aliada que assinaram o requerimento, utilizando-se de retaliações como a demora ou o não pagamento de emendas orçamentárias, e a revisão de indicações para cargos importantes em suas bases eleitorais. Pelo menos 146 deputados, pertencentes a partidos com ministérios no governo, estão na mira dessas represálias. Essa ação demonstra um jogo de poder agressivo, colocando em xeque a estabilidade da base governista e a própria legitimidade do processo legislativo.
A oposição, liderada pelo deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), reagiu antecipando a apresentação do requerimento e tornando pública a lista completa de assinaturas. Essa estratégia visa dificultar a retirada de apoios, expondo os parlamentares à pressão de suas bases eleitorais. A antecipação também busca evitar manobras do governo para esvaziar a lista, como a tentativa de usar o período de votação remota para desmobilizar os deputados.
A pressão não se limita ao governo. Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) também exercem influência, buscando alternativas como a revisão de penas dos condenados, uma tentativa de contornar a anistia completa. A ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) inicialmente defendeu essa possibilidade, mas recuou após críticas da Corte, demonstrando a complexidade do cenário político e a fragilidade das estratégias governamentais.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), se posiciona como mediador, buscando evitar uma crise institucional. No entanto, a decisão sobre a pauta do requerimento de urgência reside em suas mãos, tornando-o peça-chave nesse conflito.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), tenta desqualificar o projeto, argumentando que ele visa prioritariamente anistiar Jair Bolsonaro e generais envolvidos nos atos golpistas. Essa narrativa busca deslegitimar o projeto e mobilizar apoio contra a anistia.
A estratégia de retaliação do governo, no entanto, é arriscada. A ameaça de suspensão de pagamentos de emendas, principalmente as impositivas, pode gerar revolta entre os parlamentares e enfraquecer ainda mais a base governista. A pressão sobre indicações para cargos em órgãos federais também pode gerar instabilidade política e administrativa.
O futuro da anistia dependerá de uma complexa articulação política, envolvendo negociações, pressões e manobras estratégicas. A aprovação do requerimento de urgência aceleraria o processo, mas o governo ainda pode tentar obstruir a tramitação do projeto, utilizando-se de todos os recursos à sua disposição. O cenário político permanece tenso, com o risco de uma crise institucional profunda. A disputa pelo poder em Brasília continua acirrada, com a anistia como palco central desse conflito.
