Nos quatro anos em que Bolsonaro trabalhou no Palácio do Planalto, o senador Flávio Bolsonaro (PL) foi o filho que mais visitou o local, com 301 registros de entrada. O vereador Carlos Bolsonaro (PL), o único que tem o dever de cumprir expediente fora de Brasília, foi o segundo que mais vezes foi ao Planalto, com 166 entradas registradas, seguido pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), com 146 visitas. O filho mais novo, Jair Renan Bolsonaro, o “04”, entrou no Planalto 58 vezes.
Enquanto isso, Jair Renan, filho do segundo casamento do ex-presidente, o único entre os quatro irmãos a não ocupar nenhum cargo eletivo, só foi conhecer o Palácio do Planalto em abril de 2019.
Reuniões de crise
Agentes importantes nas decisões do ex-presidente, seus três filhos mais velhos se acostumaram a se reunir com Jair Bolsonaro em dias que antecederam episódios marcantes do seu governo.
O primeiro ministro a deixar o governo Bolsonaro foi Gustavo Bebianno, demitido no dia 18 de fevereiro, em meio a uma crise que envolveu o vereador Carlos Bolsonaro. Após ter um caso de candidatura laranja nas eleições de 2018 revelado pela imprensa, Bebianno negou em entrevista que seria pivô de uma crise com Bolsonaro, confirmando inclusive ter falado com o então presidente por três vezes no dia em que concedeu as declarações.
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Em 13 de fevereiro, Carlos Bolsonaro usou as redes sociais para dizer que Bebianno mentiu ao afirmar que havia falado com o presidente. No dia seguinte, o filho “02” foi o primeiro a chegar ao Planalto, logo de manhã, às 8h. Carlos ainda voltou mais tarde, às 12h, seguido de Flávio e Eduardo. Quatro dias depois, veio o anúncio oficial da demissão de Gustavo Bebianno. À época o próprio Bebianno atribuiu a saída aos atritos que tinha com o filho do presidente.
A demissão do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta durante a pandemia de coronavírus também veio após reuniões do presidente com seus filhos mais velhos. O médico ficou à frente da pasta por pouco mais de um ano e foi demitido após divergir de Bolsonaro ao defender a vacinação e o isolamento social no combate ao coronavírus.
Um dia antes da demissão ser anunciada pelo governo, o ex-presidente recebeu Eduardo, Flávio e Carlos no Planalto. Eduardo chegou mais cedo, às 9h, enquanto Flávio e Carlos chegaram perto de 10h. Eduardo e Flávio saíram juntos, e Carlos foi o último a deixar o Planalto, às 18h39. Carlos e Flávio voltaram no dia 16 de abril, data em que a demissão de Mandetta veio a público.
Os dois irmãos mais velhos também estiveram no Planalto no dia em que o ex-presidente Bolsonaro foi avisado sobre as fraudes na compra da vacina Covaxin. Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, o ex-deputado federal Luis Miranda afirmou que ele e seu irmão teriam alertado Bolsonaro sobre o esquema de fraude, no dia 20 de março de 2020.
Flávio e Carlos passaram aquele sábado no Palácio do Planalto, entrando às 9h50 e saindo às 17h11 e 18h25, respectivamente. Mesmo após a denúncia, o governo seguiu com as negociações para a compra de 20 milhões de vacinas.
Já em 2021, a troca do comando das Forças Armadas marcou um distanciamento entre o então presidente e as Forças Armadas. Como de costume, Jair Bolsonaro recebeu seus filhos antes de tomar a decisão. Desta vez, Flávio e Eduardo se encontraram com o pai no Planalto em 29 de março, dois dias antes da troca de comando.
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Nesse mesmo ano, Bolsonaro voltou a se encontrar com seus filhos no Planalto, antes do desfile de 7 setembro, marcado por um discurso de ameaças ao Supremo Tribunal Federal (STF). Carlos e Eduardo visitaram o pai no dia 6 de setembro, o vereador chegou mais cedo, às 9h, enquanto o deputado entrou às 12h. Os dois saíram quase às 14h, Eduardo voltou ao Planalto às 17h e deixou o local às 19h27.
Período de campanha
Apontado como o maior influenciador nas decisões do ex-presidente, Carlos Bolsonaro foi o filho que mais visitou o Palácio do Planalto durante o período eleitoral. O “02” foi o responsável por comandar a comunicação de Bolsonaro na campanha de 2018 à Presidência e durante seu mandato. Na campanha à reeleição, em 2022, não foi diferente.
Os dados dos crachás de acesso apontam que o vereador foi ao local onde o pai despachava 39 vezes, na frente até mesmo do coordenador de campanha do ex-presidente, Flávio Bolsonaro. O senador visitou o Planalto 24 vezes desde julho de 2022, até a derrota do pai em 30 de outubro.
Apesar de ser o filho com menos entradas registradas durante os quatro anos de mandato do pai, Jair Renan visitou mais o Palácio do Planalto durante a campanha do pai do que o deputado federal Eduardo Bolsonaro. Renan teve 11 registros de entrada durante o período eleitoral, enquanto Eduardo foi ao Palácio apenas cinco vezes no decorrer da campanha.
Um dia após o resultado do primeiro turno, Flávio e Carlos Bolsonaro, os filhos que tiveram papel mais ativo na campanha, visitaram o pai no Planalto. No dia 31 de outubro, o senador entrou às 9h21 e saiu às 11h06. Carlos entrou logo após a saída do irmão, às 11h37, e teve sua saída registrada às 15h35.
O último a sair apaga a luz
Após a derrota no segundo turno, o ex-presidente Jair Bolsonaro ficou recluso no Palácio da Alvorada e não foi visto no Planalto entre os dias 3 e 23 de novembro. Com isso, as visitas de seus filhos passaram a se tornar cada vez mais raras. Foram apenas quatro registros de entrada depois do dia 30 de outubro.
Jair Renan foi o primeiro filho a passar no Palácio do Planalto, um dia após o resultado do pleito, em 31 de outubro. Os registros mostram que Renan Bolsonaro entrou às 13h41 e saiu às 15h26. Os próximos encontros demoraram a acontecer, Carlos só foi visitar o local de trabalho do pai novamente nos dias 23 e 24 de novembro.
O mais velho, Flávio, foi o último a passar pelo Planalto, no dia 1º de dezembro. Os horários de saída das últimas visitas de Carlos e Flávio não foram registrados.
Entenda
O governo Bolsonaro impôs o sigilo sobre os dados de acesso ao Palácio do Planalto de Eduardo Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, Flávio Bolsonaro e Jair Renan Bolsonaro em julho de 2021.
Os dados de entrada e saída dos crachás foram fornecidos pelo GSI e obtidos pelo Metrópoles por meio da Lei de Acesso à Informação.
O pedido foi feito pelo Metrópoles ainda em novembro do ano passado. O acesso às informações foi negado três vezes pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), sob a justificativa que os registros de acesso às instalações presidenciais dos familiares do presidente estavam classificados com o grau de sigilo “Reservado”.
Já no início de março deste ano, a CGU decidiu tornar os dados públicos. A Controladoria argumentou que a justificativa usada para classificar as informações expirou após o fim do mandato do ex-presidente Bolsonaro e, desse modo, “deve prevalecer o princípio da transparência sobre as informações solicitadas”.