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POLÍTICA

Há 10 anos, Acre perdia o ex-governador Orleir Cameli

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Há dez anos, numa manhã de sol de uma quarta-feira, morria em Manaus (AM), de câncer, o empresário e ex-governador do Acre, Orleir Messias Cameli. Ele tinha 65 anos e havia governado o Acre de 1995 e 1998, passando também 15 meses, de 1993 a 1994, como prefeito de Cruzeiro do Sul, sua cidade natal. Orleir era tio do atual governador do Acre, Gladson Cameli.

Orleir nasceu em 16 de março de 1949, no seringal Belo Horizonte, região do Vale do Juruá. Era o segundo mais velho de três irmãos filhos do casal Marieta e Marmud Cameli, ele descendente de libanês e ela uma acreana nascida nas florestas do Juruá. O filho mais velho do casal era Francisco, o “Chiquinho”, falecido em maio de 2019, também vítima de câncer. O filho mais novo dos três irmãos é Eládio Cameli, o pai do atual governador acreano.

Orleir e os irmãos, acompanhado dos pais, mudou-se, ainda jovem, para Cruzeiro do Sul, onde estudou, e se estabeleceu para viver e constituir família. Como pouco mais de 20 anos, ao lado dos irmãos e sócios, já dava os primeiros passos como empresário e, antes de entrar para a política partidária, já era um homem de negócios com destacada atuação no Acre, Amazonas e Rondônia, com empreendimentos em vários segmentos empresariais.

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Orleir Cameli. Foto: Reprodução

Graças a sua visão empreendedora a atividade privada, era muito assediado por políticos, de vários matizes ideológicos, para ser candidato, o que ele relutou até 1992, quando aceitou ser candidato a prefeito de Cruzeiro do Sul, pelo PSC, um partido minúsculo com o qual enfrentaria políticos tradicionais. Na disputa pela Prefeitura de Cruzeiro do Sul, concorreu contra a então deputada estadual Maria das Vitórias, esposa do ex-prefeito e ex-deputado federal João Tota Figueiredo, e contra o candidato do PT, o pesquisador Salas. Venceu a eleição com mais de 60% dos votos.

A eleição para a Prefeitura e o trabalho desenvolvido no município, apesar do pouco tempo no cargo, o credenciaram para, em 1994, disputar o Governo do Acre, agora já filiado ao PP, partido tradicional. De novo enfrentaria caciques tradicionais da política local, como o então ex-governador e na época senador Flaviano Melo, do MDB, e Tião Viana, do PT e irmão do então prefeito de Rio Branco, Jorge Viana, lideranças em ascenção na época. Foi ao segundo com Flaviano Melo e venceu a eleição após encurralar o líder do MDB em debates de TV e nos programas de rádio e TV do horário eleitoral, quando anunciava que, em seu Governo, “seria a vez do Acre”.

Fez um Governo sob intensa oposição dos caciques do MDB e do próprio PT, que tinha a então senadora Mariana Silva como interlocutora junto ao presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, com pautas através das quais buscava dificultar o governo estadual de todas as formas. Orleir Cameli havia se comprometido em realizar a pavimentação das principais rodovias do Acre, a 317 e a 364, cujos projetos só saíram do papel depois de muitas lutas e brigas com os órgãos ambientais e a Procuradoria Geral da República no Acre, que eram instrumentalizados em Brasília pelos senadores Nabor Júnior, Flaviano Melo e Marina Silva.

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Orleir Cameli e Gladson Cameli. Foto: Reprodução

No entanto, mesmo em meio a polêmicas, Orleir conseguiu pavimentar BR-317, ligando Rio Branco ao Alto Acre e iniciou a pavimentação da BR-364. Foi apontado também como uma espécie de reconstrutor de Sena Madureira, na administração da prefeita Toinha Vieira, após uma das grandes enchentes do município, razão pela qual o ex-governador é reverenciado na cidade até os dias atuais.

Em 2012, o ex-governador recebeu da Câmara Municipal de Rio Branco o título de cidadão rio-branquense pelos serviços prestados à capital em sua gestão. Mas, sua paixão pública era pelo Juruá. Região que sonhava integrar via BR-364 com a capital acreana.

Durante sua gestão Orleir Cameli foi responsável pela construção e reforma de equipamentos públicos importantes para o Acre. Entre eles, a construção da primeira Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na Fundação Hospitalar do Acre (Fundhacre), hoje Hospital das Clínicas; a construção da Delegacia Especializada da Mulher; foi responsável pela aquisição da Balsa Hospital Dr. Manoel Braga Montenegro e por levar serviço de saúde às famílias ribeirinhas da região do Vale do Juruá.

Em 1998, após desencantar-se com a política, Orleir Cameli declinou do direito de concorrer à reeleição, já que o instituto havia sido aprovado no ano anterior e ele poderia ser candidato. À boca pequena, dizia-se na época que Orleir Cameli, naquele pleito, apoiara o então candidato petista Jorge Viana, que foi eleito no primeiro turno.

Em 2013, na morte do ex-governador, o então governador, Tião Viana, que havia sido seu adversário em 1994, lamentou a morte em nota oficial. O governador petista disse que Orleir Cameli foi responsável pela “integração e o desenvolvimento do Estado – notadamente o asfaltamento da BR-317 de Senador Guiomard a Brasiléia, o asfaltamento da BR-364 no trecho de Rio Branco a Sena Madureira, além da reabertura da estrada de Sena Madureira a Cruzeiro do Sul no verão de 1998, depois de nove anos totalmente fechada”.

Orleir Cameli era um acreano a frente de seu tempo e que deixou um legado, na vida pública e privada, que deverá levar muito tempo para ser – se for ! – superado. Naquela manhã de sol de 8 de maio, num hospital de Manaus, o Acre perdeu um de seus filhos mais ilustres e um de seus cidadãos mais dedicado a causas de sua terra e de sua gente.

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