POLÍTICA
Lira x Calheiros: indenização bilionária da Braskem acirra conflito político em Alagoas
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), e o senador Renan Calheiros (MDB) polarizam uma rixa eleitoral em Alagoas há muito tempo. Como dificilmente ocorre uma disputa um contra o outro nas urnas, a briga acaba acontecendo por meio de aliados.
O agravamento da situação de minas de sal-gema da Braskem em Maceió, sob risco de colapso iminente, reacendeu o conflito entre dois políticos, como mostram o jornal O Globo e a CNN Brasil. No centro deste conflito está uma indenização bilionária paga pela Braskem este ano.
Em julho, a petroquímica pagou R$ 1,7 bilhão à prefeitura da capital alagoana pelos danos causados depois da evacuação de cinco bairros. O prefeito João Henrique Caldas, o JHC (PL), é aliado do presidente da Câmara dos Deputados.
Após o acordo, o governador Paulo Dantas (MDB), aliado de Renan Calheiros, acionou o Tribunal de Contas da União (TCU) pedindo a suspensão do trâmite. Dantas argumentou que o acordo era “excludente” por deixar de fora o governo estadual.
Lira, por sua vez, elogiou o acordo e classificou a indenização como “um feito da gestão” do atual prefeito.
Segundo analistas da cena política local, a injeção de recursos da Braskem tornou JHC um forte candidato à reeleição para a prefeitura e até para o governo do Estado em 2026.
Parte dos recursos da indenização foi utilizado para a compra do Hospital do Coração. A falta de leitos hospitalares é uma das principais reclamações da população da cidade e, na visão de opositores, o investimento na saúde trará ganhos políticos para o aliado de Lira.
Indenização, impactos sociais e ambientais
No dia 21 de julho deste ano, a Braskem fechou acordo com o município de Maceió para pagamento de R$ 1,7 bilhão. O termo estabelece a indenização, compensação e ressarcimento integral da cidade alagoana em relação a todo e qualquer dano patrimonial e extrapatrimonial por ele suportado.
Os problemas em Maceió começaram no dia 3 de março de 2018, quando um tremor de terra na cidade causou rachaduras e o afundamento do solo em cinco bairros: Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e em uma parte do Farol. Mais de 55 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas naquele ano.
O abalo foi causado pelo deslocamento do subsolo por conta da extração de sal-gema, um cloreto de sódio que é utilizado para produzir soda cáustica e policloreto de vinila (PVC), pela Braskem, que atuava na região desde 1976.
Para retirar o minério, a empresa injetava água na camada de sal e extraía a salmoura resultante. Depois, reinjetava líquidos no local para estabilizar o solo. Porém, as minas apresentaram vazamentos.
A companhia encerrou a extração do minério na região em 2019. No total, mais de 200 mil pessoas foram afetadas pelo desastre. *Com informações do Estadão Conteúdo