POLÍTICA
Lula indica que vai comprar briga grande em escolhas para o STF e PGR
Entre as escolhas mais arriscadas de Jair Bolsonaro em sua gestão estão escolha, a dedo, de um procurador-geral da República fora da lista tríplice das eleições do Ministério Público e de dois ministros do Supremo Tribunal Federal selecionados pelo critério da simpatia.
Os três mostraram defensores caninos da pauta bolsonarista em seus postos.
Houve gritaria e má repercussão antes, durante e depois das escolhas. Nada que impedisse as pretensões eleitorais de Bolsonaro em outubro de 2022.
Foi-se o tempo em que desgaste no noticiário e brigas com setores-chave da sociedade, inclusive procuradores, causavam estragos nos cascos políticos mais portentosos.
Pela ótica do pragmatismo, Bolsonaro mostrou que estava certo em não temer.
Sabia que poderia colocar o demônio na PGR que ele não tiraria um único voto já destinado a ele entre os eleitores antipetistas. E vice-versa: nem que colocasse um beato na chefia do Ministério Público o presidente conseguiria arregimentar um mísero apoio de eleitores petistas mais fervorosos, política e religiosamente.
Bolsonaro criou jurisprudência e Lula, ao que indicou em sua entrevista à BandNews, na quinta-feira (2), deve seguir pela mesma trilha aberta mata adentro.
O petista parece imaginar que, mantidas as condições das últimas eleições, não perderá nem ganhará votos se repetir o antecessor na escolha de postos-chave que, anteriormente, obedeciam a outras liturgias.
A lista tríplice do MPF era, no fim das contas, uma formalidade. Historicamente escolhia-se o primeiro colocado num sinal de independência. Até quando o primeiro colocado da disputa interna resolvia fazer da vida do presidente um inferno.
A escolha fora desse critério não é ilegal. Também não é moral, mas isso são outros 500.
Bolsonaro, verdade seja dita, não foi o primeiro a escolher seu Advogado Geral da União para o Supremo.
Antes dele Lula e Fernando Henrique Cardoso fizeram o mesmo. No caso de Lula, que ungiu Dias Toffoli, não se pode dizer sequer que ele não deve se arrepender.
A diferença é que o critério, sob Bolsonaro, foi a fé do escolhido.
Lula quer ir além.
Estuda colocar no STF o seu advogado particular.
“Todos compreenderiam”, aposta Lula.
Talvez não compreendam. Mas ainda assim seus eleitores não deixariam de votar nele se do outro lado estiver Bolsonaro. E vice-versa.
A dinâmica da última eleição mostrou que os candidatos já não precisam manter a popularidade em dia para chegar ao pleito em condições de disputa.
Basta não perder tempo buscando voto onde não conseguirá e manter a base unificada diante do inimigo comum. Se tiver retaguarda onde poderia ser investigado, melhor.
Feito isso, restaria “só” obter apoio daquela coluna do meio que não se apega a um ou outro candidato, e sim à situação econômica, e volante, do país.
É essa trincheira que parece queimar as pestanas do atual presidente.
Isso explica a batalha travada em torno dos juros e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
O ataque, assim denominado, à autonomia da instituição pode render manchetes nada abonadoras para o petista. Mas também não são capazes de mudar as convicções dos eleitores mais fiéis na hora H.
O que Lula precisa é fazer andar a economia, que cresceu 2,9% no ano passado mas já dá sinais de que perdeu o fôlego. Isso sim pode mudar o jogo.