POLÍTICA
Lula revoga Abrace o Marajó, programa de Bolsonaro alvo de denúncias
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) revogou, nesta terça-feira (5/9), o programa “Abrace o Marajó”, criado em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), encabeçado pela então ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves.
A medida está publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta terça. O Abrace o Marajó é alvo de denúncias. O programa de Damares foi suspenso e substituído por outro projeto do governo: o Cidadania Marajó — com foco no combate à exploração e ao abuso sexual de crianças e adolescentes na Ilha de Marajó (PA).
Um relatório da Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia da Câmara dos Deputados indica que o programa foi utilizado para a exploração de riquezas naturais e para atender a interesses estrangeiros, sem benefício ou participação social da população local. A Comissão recebe denúncias sobre o Abrace o Marajó desde o ano passado.
Marajó entrou nos holofotes quando, em 2022, Damares afirmou, sem provas, que crianças no arquipélago são traficadas e têm os dentes “arrancados para elas não morderem na hora do sexo oral”. Em maio, a senadora voltou a mencionar a ilha, ao dizer que pretende se tornar a “princesa do principado de Marajó” (veja abaixo).
Abrace o Marajó
Lançado em 3 de março de 2020 por decreto presidencial, o programa Abrace o Marajó era destinado a fornecer infraestrutura, desenvolvimento social, desenvolvimento produtivo e fortalecimento institucional para atender às demandas dos municípios de Marajó.
Neste ano, o Metrópoles revelou que a gestão de Damares informou que investiu R$ 718 mil na realização de 70 encontros destinados à formação e ao apoio de famílias do arquipélago. No entanto, entidades responsáveis por “tirar o projeto do papel” negaram o recebimento da verba.
De acordo com relatos de habitantes e líderes marajoaras ao Metrópoles, o programa servia apenas para “distribuição de cestas básicas”, com visitas esporádicas e promessas não cumpridas pela equipe da então ministra, além de abrigar diversos projetos “fantasmas”.
“Em 2021, ela [a Damares] chegou a vir com alguns secretários, pegaram e registraram nossas demandas. Mas, quando enviamos e-mails mais tarde para saber dos projetos prometidos, só respondiam que já tinham encaminhado para o gabinete responsável. Depois, mais nada”, relata Deco Alves, liderança na comunidade quilombola Deus Ajude, em Salvaterra.