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POLÍTICA

Oito anos após sua morte, Eduardo Campos continua a influenciar relação entre PSB e PT

Publicado em

Roosewelt Pinheiro/Arquivo Agência Brasil

Em 13 de agosto de 2014, há exatos oito anos, o então candidato à Presidência da República Eduardo Campos (PSB) morreu em acidente aéreo na cidade de Santos (SP). O episódio trágico mudou o curso das eleições naquele ano e gerou consequências políticas que duram até hoje.

Após se eleger por duas vezes governador de Pernambuco (2006 e 2010) e protagonizar o surgimento do “eduardismo” no estado, Eduardo Campos, que na época presidia o PSB, optou, em 2013, por romper parceria com o PT no âmbito nacional.

Naquele momento, o pernambucano buscava alçar novos voos e nacionalizar seu nome, a fim de disputar a Presidência em 2014, diante da dificuldade da então presidente Dilma Rousseff em capitalizar a popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva. É o que explica o cientista político Antônio Oliveira, da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE).

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“Ele entendia que, no momento em que o Lula ‘vai para casa’ (deixa o Planalto), o lulismo poderia ser liderado por outra pessoa. Como Dilma chega a 2013 ainda sem liderar o processo, Eduardo Campos decide romper com o PT, representar o lulismo e levar o ‘eduardismo’ para o restante do país”, comenta o especialista.

O acidente aéreo, porém, impediu que o pernambucano disputasse aquela eleição. No seu lugar, o PSB lançou a então candidata a vice na chapa de Campos, Marina Silva, hoje filiada à Rede. A ex-ministra receberia 22 milhões de votos no pleito de 2014.

Hoje, a chapa Lula-Alckmin escreve novo capítulo da relação PT-PSB a nível nacional, reatando laços que começaram a ser rompidos por Campos. Enquanto isso, em Pernambuco, a candidatura de Danilo Cabral (PSB) ao governo de Pernambuco une, além das siglas, os legados do lulismo e do “eduardismo”.

A CNN relembra o papel de Eduardo Campos na eleição de 2014 e sua influência na atribulada relação entre PT e PSB.

Eduardo Campos e o PT

Os caminhos de Eduardo Campos e do Partido dos Trabalhadores se cruzaram pela primeira vez em 2002. Na época, Campos cumpria seu terceiro mandato como deputado e ocupava o posto de líder do PSB na Câmara. O parlamentar atuava como um articulador do governo Lula na Casa.

Campos trabalhou junto ao governo em diversos temas sensíveis no Congresso Nacional, como na tramitação da reforma da previdência. Antes mesmo do fim do primeiro mandato do petista, Campos assumiu, a convite de Lula, o Ministério da Ciência e Tecnologia.

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Nas eleições de 2006, Campos decidiu se lançar ao governo de Pernambuco. Na ocasião, houve uma breve separação em relação ao PT, que lançou Humberto Costa ao cargo. Lula optou por apoiar ambos os candidatos. Segundo o entendimento do então presidente, era preciso superar a hegemonia do PMDB no estado.

Campos avançou para o segundo turno com Mendonça Filho (PFL), candidato apoiado pelos emedebistas. Com apoio de Lula, o pessebista foi eleito com 65,36% dos votos. Em 2010, ele foi reconduzido ao cargo e, novamente, Lula esteve em seu palanque.

O professor da UFPE Adriano Oliveira dos Santos afirma que Campos surge para ocupar, em Pernambuco, o espaço deixado pelo ex-governador Miguel Arraes, que rivalizava com Lula no estado.

“O PT sempre foi concorrente do PSB [no estado]. O PSB, ainda no governo de Miguel Arraes, concorria com o PT. O ‘arraesismo’ era concorrente do lulismo. Mas o lulismo era nacional, o outro regional estadual. O ‘arraesismo’ é substituído pelo “eduardismo”, afirma Adriano.

O cientista político diz, no entanto, que a relação do petista com o “eduardismo” não era de oposição no estado. Para o especialista, inclusive, Campos era uma figura “impulsionada” pelo lulismo dentro do estado.

Segundo o professor da UFPE, apesar disso, o rompimento com Lula era um movimento “natural”.

“O lulismo permitiu a existência do eduardismo. O presidente Lula possibilitou o bom governo de Eduardo Campos. Como o governador Eduardo Campos era um político muito hábil e que buscava sonhos maiores até por conta de sua habilidade política, era natural que ele viesse a romper com o PT”, diz.

A parceria chegou ao fim em 2013, quando Campos deixa a base do governo da então presidente Dilma Rousseff. O motivo do rompimento seria o PT manter parcerias com setores “tradicionais” da política, como o próprio PMDB, de Michel Temer.

Eduardo Campos, então, se aproximou de nomes como Marina Silva e passou a liderar movimento que intitulava de “nova via”.

O acidente

Em 13 de agosto de 2014, o candidato do PSB saiu do Rio de Janeiro, durante a manhã, rumo ao Guarujá, em São Paulo, para cumprir agenda eleitoral.

Ele embarcou em jato Cessna com outras sete pessoas. O avião estava arremetendo na cidade de Santos, devido às más condições climáticas. O piloto então perdeu o controle, e a aeronave colidiu com o solo. O impacto atingiu diversas residências, que chegaram a ser interditadas pela Defesa Civil.

Nenhum dos tripulantes sobreviveu. Estavam no jato, além de Campos, dois pilotos, dois assessores e um fotógrafo. Dez pessoas, que estavam na região no momento da queda, tiveram ferimentos leves e precisaram ser encaminhadas para hospitais.

Marina Silva, candidata à vice-Presidência na chapa de Eduardo Campos deveria estar no voo para a agenda de campanha, mas acabou não embarcando.

Após investigações do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), foi constatado que a queda ocorreu por diversos fatores, entre eles falha humana, condições inapropriadas para a operação no aeródromo e desorientação visual.

Marina Silva e a campanha de 2014

Após a morte de Campos, a então candidata a vice, Marina Silva, foi escolhida para encabeçar a chapa. Com a repercussão do acidente, o PSB viu suas intenções de voto se multiplicarem nas pesquisas.

Uma pesquisa Datafolha divulgada em 17 de julho, mostrava Campos com 8% das intenções de voto. No primeiro levantamento do instituto após o acidente, em 17 de agosto, Marina apareceu com 21%.

A candidata chegou a ter 34% das intenções de voto, empatada com Dilma Rousseff (PT), segundo pesquisa Datafolha divulgada em 28 de agosto. Aécio Neves (PSDB) tinha 15%.

Com a aproximação das eleições, porém, a candidatura de Marina perdeu fôlego. Em mais um capítulo do afastamento entre PT e PSB, ela acusava os petistas de se unirem ao PSDB em “campanha desleal”, para atacá-la.

No primeiro turno, sua candidatura ficou em terceiro lugar, com 21% dos votos válidos, o que representou 22 milhões de eleitores. Ela ficou fora do segundo turno, disputado entre Dilma e Aécio.

Apesar do fracasso a nível nacional, o legado de Campos se mostrou sólido em Pernambuco. Além de eleger Paulo Câmara (PSB) como sucessor, fez com que Marina Silva fosse a candidata à Presidência mais votada do primeiro turno no estado, com 48% dos votos válidos.

“O ‘eduardismo’ se consolida em Pernambuco, mas não se consolida nacionalmente, em razão da morte do governador Eduardo Campos. Hoje ele se mantém presente como uma memória muito positiva. 50% dos eleitores consideram Campos o melhor governador da história de Pernambuco”, diz Adriano, com base em pesquisas de popularidade.

Cisão no impeachment e reconciliação em 2018

A separação entre PSB e PT se tornou ainda mais visível durante o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016. A maior parte da bancada pessebista em ambas as Casas legislativas foram favoráveis ao processo.

Na Câmara dos Deputados, 29 deputados do PSB votaram a favor do impeachment, e apenas três contra. Já no Senado federal, cinco foram favoráveis, e dois contrários.

No Senado, dos sete representantes do PSB, dois foram contrários, enquanto cinco foram favoráveis.

Dois anos mais tarde, nas eleições presidenciais de 2018, o PSB chegou a negociar com Ciro Gomes (PDT) para formação da chapa. No entanto, acordos regionais firmados com o PT frearam a composição.

No primeiro turno, o PSB se manteve neutro. Já no segundo turno, entre Jair Bolsonaro, (então no PSL) e Fernando Haddad (PT), decidiram apoiar a candidatura do petista, que foi derrotado. O apoio simbolizou um princípio de aproximação entre as legendas.

Os legados e sucessores

Filho de Eduardo, João Campos assumiu em 2016 o cargo de chefe de gabinete do governador Paulo Câmara.

Em 2018, com 25 anos, disputou vaga na Câmara com o slogan “o filho da esperança”. Em sua primeira eleição, ele conseguiria resultado histórico: mais de 460 mil votos e a marca do candidato mais bem votado na história de Pernambuco.

Apesar da votação expressiva, João Campos não cumpriu o mandato até o final. Deixou o cargo para concorrer à Prefeitura de Recife, em 2020. A principal adversária era a sua prima Marília Arraes — prima de Eduardo Campos — que disputava pelo PT.

Marília tecia duras críticas à gestão PSB desde sua saída do partido. Os dois foram ao segundo turno, que decretou a vitória de João Campos com 56,27%, o que representou quase 450 mil eleitores.

Apesar da vitória de João em 2020, o professor da UFPE aponta que ainda “falta identidade popular” ao prefeito para que possa refletir a imagem e legado de seu pai no estado.

“Ele não conseguiu ainda ter essa identidade de povo. Talvez ele não faça essa escolha. Talvez não seja orientado para tal, mas João Campos é um político que, apesar de ter discurso de centro-esquerda, ele não tem identidade popular”, afirma.

Outro que carrega o legado do “eduardismo”, segundo o especialista, é Danilo Cabral (PSB), que disputará o governo de Pernambuco em outubro deste ano. Sua principal adversária no pleito é Marília Arraes, que hoje é quadro do Solidariedade.

A disputa entre os candidatos marca o capítulo mais recente da relação entre PT e PSB. A cúpula petista no estado garantiu apoio a Cabral — apesar de parte do diretório ver Arraes como melhor opção.

O movimento do PT não é um ponto fora da curva. PT e PSB vêm se articulando entre candidaturas e concessões ao redor do Brasil. Além de aliados em 15 estados, os partidos, que estão juntos novamente após oito anos, encabeçam chapa para disputa da Presidência, com Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin.

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