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POLÍTICA

Ostentação do governador do Acre reforçou suspeitas da PF sobre corrupção; defesa nega

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A rotina de ostentação de um padrão de vida milionário colocou o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), no centro de uma investigação da Polícia Federal por suspeita de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro. As principais conclusões da investigação até o momento, de acordo com o relatório parcial da PF enviado ao Superior Tribunal de Justiça obtido pelo UOL, são as seguintes:

A suspeita de que os itens de luxo usados pelo governador e sua família, como uma BMW de meio milhão de reais, um SUV da Jaguar e um imóvel em Miami de 4,5 milhões de dólares (R$ 23 milhões), foram adquiridos com recursos desviados de contratos do governo estadual.

Em seus cartões de crédito pessoais, Cameli gastou R$ 1,047 milhão no ano de 2020, enquanto o salário é de R$ 35 mil por mês. Os gastos superaram o dobro dos rendimentos dele como governador.

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A PF obteve diversas imagens retratando a vida de luxo de Gladson Cameli e seus familiares, incluindo notas fiscais de compra de uma loja em Brasília da grife Louis Vuitton, identificando a compra do relógio (R$ 32 mil), uma bolsa (R$ 14 mil) e uma mala (R$ 17 mil).

A defesa do governador rejeita veementemente as alegações dos investigadores, diz que os gastos dele têm lastro em atividade empresarial e acusa a Polícia Federal de ter manobrado para conduzir uma investigação irregular, “driblando” o foro no Superior Tribunal de Justiça (leia mais abaixo). Cameli declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 5,1 milhões na eleição de 2022 e R$ 2,9 milhões em 2018. A Polícia Federal afirma que o governador vem omitindo, ao longo dos últimos anos, mais da metade do que seria o seu verdadeiro patrimônio graças ao que seriam aquisições de bens em nome de terceiros. A PF estimou que o patrimônio seria de cerca de R$ 14 milhões ao final do ano de 2021.

Os carros Engenheiro de formação, o governador de 45 anos é um político profissional. Entre 2007 e 2015 foi deputado federal e depois, entre 2015 e 2019 foi senador, quando renunciou ao cargo após vencer a eleição para o governo. No ano passado, ele foi reeleito. Gladson é sobrinho de Orleir Camelli (1949-2013), que também governou o Acre (1995-1998). Segundo a PF, há fortes indícios de que uma empresa comprou um carro de luxo usado pelo governador e posteriormente ganhou contrato com o governo estadual.

A PF rastreou automóveis negociados pelo governador e mantidos em nome de terceiros, como um Jaguar E-Pace, comprado por uma empreiteira um mês depois da vitória de Camelli em 2018.

A nota fiscal da compra, em nome da CZS Engenharia, foi apreendida no escritório do governador em Rio Branco. O veículo nunca foi transferido para o nome de Gladson Cameli. A empresa ganhou um contrato de R$ 57 milhões com o governo do Acre em 2020.

Além do Jaguar, também fizeram parte da garagem do governador diversos outros veículos, como uma Toyota Hilux SW4 no valor de R$ 255 mil e uma BMW X4 pelo valor de R$ 520 mil, esta última registrada em nome da esposa do político.

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Bens no exterior

A investigação também encontrou documentos sobre uma conta no Bank of New York, aberta em nome de uma das empresas de Gladson Cameli e que seria movimentada por ele, além de correspondências na casa dele com um endereço em Miami, na Flórida. A PF identificou que o imóvel em Miami, um apartamento com vista para o mar, foi comprado em 2018 por 4,5 milhões de dólares e seria usado por toda a família do governador.

O que diz a PF: No último dia 9 de março, a PF deflagrou nova fase da Operação Ptolomeu e cumpriu mandados de busca e afastamento de integrantes do governo estadual por causa das suspeitas do esquema de corrupção, que seria liderado por Cameli.

No relatório parcial apresentado ao Superior Tribunal de Justiça e obtido pelo UOL, a Polícia Federal escreveu que “se estabeleceu uma organização criminosa no centro do Poder Executivo do Estado do Acre, tendo o governador Gladson Cameli como líder dessa estrutura ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas”.

“A finalidade da ORCRIM [organização criminosa] evidenciou-se bastante clara: obtenção de vantagens indevidas através da prática dos crimes de Fraudes à Licitação, Corrupção Ativa e Passiva e Lavagem de Capitais”, prossegue o documento.

Outro lado

A defesa do governador Gladson Cameli disse que seus gastos são bancados por seus rendimentos empresariais. “É um erro associar os gastos pessoais ao salário de governador, uma vez que Gladson Cameli tem recebimentos de caráter empresarial, todos declarados anualmente à Receita Federal”, disseram, por meio de nota, os advogados Ticiano Figueiredo, Pedro Ivo Velloso, Tarcísio Vieira de Carvalho Neto e Telson Ferreira.

“Não há, portanto, qualquer ilegalidade no governador fazer uso dos valores que recebe da atividade empresarial, sendo uma grave ilação vincular esses gastos às ações como governador. Todas as suas despesas têm lastro e explicação. Esse inquérito, vale dizer, surge de uma pescaria probatória que driblou o foro do STJ e, para isso, fez relatórios financeiros até do filho de seis anos do governador”.

Os advogados Alberto Simonetti Cabral Neto e Nabor Bulhões, responsáveis pela defesa de de Eládio Cameli, pai de Gladson, e Gledson Cameli, irmão, afirmam que todas aquisições “foram feitas com recursos lícitos” e disseram que não receberam valores do governo estadual.

A defesa da CZS Engenharia afirmou em nota: “Considerando que o processo está tramitando em segredo de justiça, informamos que todas as justificativas estão sendo apresentadas nos autos”.

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