POLÍTICA
Substituído no comando da PRF, Camata diz que ‘lamenta’ decisão e que Lava-Jato ‘se perdeu’
Anunciado nesta terça como diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e substituído no dia seguinte, Edmar Camata disse em entrevista à coluna, que “lamenta” a decisão do futuro ministro da Justiça, Flávio Dino. O policial soube que não assumiria mais o posto meia hora antes do anúncio oficial, na tarde desta quarta-feira, após vir à tona postagens que fez no passado com críticas ao presidente eleito Lula e manifestações de apoio à Lava-Jato.
Hoje, Camata avalia que a operação “acabou se perdendo” e que, sabendo dos rumos da Lava-Jato, “talvez não faria” as publicações que culminaram em sua queda do cargo antes de assumí-lo. Para o posto, Dino anunciou o policial rodoviário federal Antonio Fernando Oliveira. Veja a entrevista:
Como recebeu a decisão do ministro da Justiça de substituí-lo?
Minha posição é de lamentar, porque meu nome era um projeto voltado para o diálogo ser retomado dentro da polícia. Meu nome foi construído por muita gente.
Por quem?
Foi construído pelo PSB, com parte da bancada do PT e instâncias de representação dos policiais, inclusive sindicatos. O objetivo do governo era melhorar a gestão e o diálogo na PRF. As pessoas chegaram a mim porque tenho um perfil de gestão com diálogo, estou num cargo de gestão há quatro anos no governo do Espírito Santo, como controlador-geral do Estado do governador Renato Casagrande (PSB).
Como o senhor soube que não seria mais o diretor-geral da PRF?
Recebi uma ligação de um assessor do ministro meia hora antes do anúncio oficial. Ele disse que houve impedimentos absolutos que não podiam ser pra transpostos.
Foram mencionadas suas manifestações nas redes sociais?
Ele não falou e não perguntei. Este é um momento de livre indicação e livre exoneração.
O senhor se arrepende das postagens?
As postagens refletiam a leitura de um momento e penso que muitos brasileiros acreditaram na Lava-Lato. Acredito que quase todos os brasileiros são contrários à corrupção. A Lava-Jato, em algum momento, espelhou a esperança de combater a corrupção no país, mas acabou se perdendo.
O senhor adotaria a mesma posição hoje?
Sabendo de tudo que aconteceu e os rumos da Lava-Jato, talvez eu não faria, é algo a ser avaliado. Mas naquele momento fiz, assim como muitas pessoas que estão no governo fizeram também. Agora não é mais hora de refletir sobre isso.
E postagem sobre a defesa da prisão do Lula, o senhor reveria?
Aquilo foi uma leitura do momento. Para ter uma opinião hoje sobre isso é preciso olhar muito o que foi decidido nesses processos. Qualquer opinião que eu der pode ser mal interpretada. Mas é fato que, em nome do combate a corrupção, não se pode ultrapassar garantias que estão na lei.
O senhor apagou as postagens?
Eu extingui meu Facebook porque não o atualizava há muito tempo. A minha conta na rede social já estava suspensa e eu vinha renovando a suspensão. Quando veio esse problema, resolvi excluir a conta.
O que o motivou a fazer aquelas postagens?
Fiz aquelas críticas em um contexto e não fazer por fazer. Eu estudo a área. Sou mestre em políticas anticorrupção pela Universidade de Salamanca e atuo nesta área como professor de compliance. Esse debate faz parte da minha vida. Durante 12 anos, administrei uma entidade de combate à corrupção no terceiro setor que era um braço na Transparência Brasil. Tenho um contexto de atuação nesse segmento. Hoje, como controlador do Espírito Santo, assumi a vice-presidência do Conselho Nacional de Controle Interno, que é o órgão que reúne todas as controladoras do país.
Teve algum desconforto em aceitar um cargo no governo Lula após suas críticas?
Minha função na PRF não tem ligação com o combate à corrupção no governo. Não fui convidado para ser controlador-geral da União.