POLÍTICA
‘Vigilância reforçada’, ‘triunfo da democracia’ e ‘teste ao judiciário’: imprensa internacional repercute julgamento de Bolsonaro

O julgamento de Jair Bolsonaro (PL) ganhou repercussão na mídia internacional nos últimos dias, paralelamente ao reforço em torno de sua prisão domiciliar. Ele será julgado juntamente com outros sete réus pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da investigação que apura a tentativa de golpe de Estado em 2022.
No sábado, 30, o ministro Alexandre de Moraes do STF ampliou o monitoramento na área externa da residência do ex-presidente, que cumpre prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica, com o objetivo de impedir uma possível tentativa de fuga do ex-chefe do Executivo brasileiro. O julgamento do ex-presidente e de seus aliados terá início na terça-feira, 2, às 9h, e terá continuidade nos dias 3, 9, 10 e 12 de setembro.
Um artigo do The New York Times destacou que o Brasil emergiu de uma ‘ditadura brutal’ há apenas 40 anos, mas que os poderes dos ministros da Suprema Corte deixam dúvida se há uma ‘reviravolta autoritária’ ou seria apenas uma ‘democracia imperfeita se esforçando ao máximo’.
“Muitos brasileiros — e muitos americanos assistindo de longe — veem este momento como um triunfo da democracia. O Brasil, que emergiu de uma ditadura brutal há apenas 40 anos, terá conseguido algo que os Estados Unidos não conseguiram: levar um ex-presidente a julgamento por acusações criminais de que ele tentou se agarrar ao poder após perder uma eleição. No entanto, a maneira como o Brasil fez isso deixou a nação às voltas com questões desconfortáveis sobre a própria democracia que ela buscava proteger”, disse o veículo.
O jornal The Washington Post chamou Bolsonaro de ‘figura conservadora mais popular do Brasil’ e disse que ‘ninguém na história brasileira foi julgado em um tribunal por subverter a vontade do povo’.
“Os processos criminais marcam uma reviravolta significativa, dizem os historiadores, em um país que tradicionalmente escolhe a conciliação em vez da acusação quando se trata de supostos crimes contra o estado democrático. O julgamento de Bolsonaro também é o ápice de uma saga extraordinária que polarizou ainda mais o Brasil, testou a determinação do seu judiciário e abriu um abismo cada vez maior com os Estados Unidos”, afirmou.
Já o The Economist afirmou que existem ‘sinais claros de que o Brasil está cansado’ de Bolsonaro e de sua família. “Se ele for considerado culpado, o país, por mais dividido que esteja, poderá deixar para trás o pior da polarização. Há um consenso crescente em todo o espectro político sobre a necessidade de restaurar o equilíbrio de poder entre os poderes e combater as fragilidades econômicas do Brasil. Se o Brasil encontrar um caminho para esse destino, não apenas se poupará de mais uma década de conflitos, mas talvez mostre uma saída do populismo para outros seguirem”, escreveu.
O francês Le Monde ressaltou que a prisão domiciliar do ex-presidente está sendo mantida 24h por dia sob “risco de fuga”. Além disso, o site citou a pressão de Trump no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por conta de Bolsonaro.
“Os promotores apontaram revelações recentes de que Bolsonaro planejava buscar asilo na Argentina no ano passado como prova de que o homem de 70 anos poderia tentar escapar de uma possível pena de prisão prolongada. Em seu rascunho de pedido de asilo, o homem apelidado de ‘Trump dos Trópicos’ durante sua presidência (2019-2022) alegou ser vítima de perseguição política. O julgamento criou uma profunda divisão entre Lula e o presidente dos EUA, Donald Trump, que criticou o indiciamento de seu aliado Bolsonaro como uma ‘caça às bruxas’ e puniu os responsáveis por colocá-lo no banco dos réus”, pontuou.
O Clarín deu destaque à segurança em torno da Praça dos Três Poderes, em Brasília, 24 horas antes do início do julgamento de Bolsonaro. O veículo argentino comentou que barreiras de cotenção foram instaladas ao redor da praça e que manifestações estão proibidas.
“A mídia local relata que apoiadores do líder de direita, agora em julgamento, poderiam se reunir do lado de fora de quartéis ou prédios do governo, como fizeram nas horas que antecederam o ataque de 8 de janeiro de 2023, considerado o ato final da suposta tentativa de golpe que visava impedir que Luiz Inácio Lula da Silva tomasse posse”, disse.
