RIO BRANCO
Dois anos após tragédia aérea em Rio Branco, lentidão na investigação aumenta angústia das famílias

Rio Branco, Acre – Completam-se hoje dois anos desde o trágico acidente aéreo que ceifou a vida de 12 pessoas em Rio Branco, e a morosidade na conclusão da investigação reacende a dor e a incerteza entre os familiares das vítimas. A apuração conduzida pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) avançou apenas 5% no último ano, atingindo 60% de conclusão, sem que nenhuma recomendação de segurança tenha sido emitida até o momento.
Na fatídica manhã de 29 de outubro de 2023, a aeronave Cessna Grand Caravan 208B, decolou do Aeroporto Internacional de Rio Branco com destino a Envira, no Amazonas, levando consigo 12 passageiros, incluindo um bebê de apenas um ano e sete meses. Pouco depois da decolagem, o avião caiu em uma área de mata próxima à cabeceira da pista, transformando sonhos em luto.
O Cenipa informou que a aeronave era homologada para transportar até 10 passageiros e dois tripulantes, com um peso máximo de decolagem de 3.969 kg. As investigações em andamento abrangem desde a análise minuciosa dos componentes e sistemas da aeronave até a avaliação do desempenho técnico e psicológico dos envolvidos, além de fatores operacionais, de manutenção e reparos.
Em Envira, cidade natal da maioria das vítimas, a tragédia deixou cicatrizes profundas. Rômulo Mattos, ex-prefeito e então secretário municipal de saúde, perdeu dois sobrinhos no acidente e descreve o impacto devastador na comunidade.
“A cidade inteira se paralisou. Foi um momento de dor imensa para as famílias, mas também de grande união. A saudade é constante e a esperança por respostas dos órgãos de controle aéreo ainda se mantém viva”, relata Mattos.
Rosiney Mendes, irmão da servidora pública Edneia França, falecida no acidente, compartilha o sentimento de abandono e a angústia da espera. Ele relembra o último adeus à irmã no aeroporto e a notícia devastadora que se seguiu.
“Deixei-a no aeroporto por volta das seis da manhã. Ela embarcou sorrindo, se despedindo. Assim que cheguei em casa, me ligaram dizendo que algo havia acontecido com o avião. Corri para lá e me deparei com um cenário que jamais imaginei presenciar”, conta Mendes.
Para Rosiney, a falta de informações sobre as causas do acidente intensifica a dor. “O que mais nos incomoda é que, passados dois anos, ninguém sabe o que aconteceu. Se foi problema no motor, excesso de peso, erro humano… Ninguém nos diz nada. Queremos apenas uma resposta”, desabafa. Ele informa que as famílias das vítimas chegaram a um acordo com a ART Táxi Aéreo e receberam as devidas indenizações.
Curiosamente, o mesmo modelo de aeronave envolvido na tragédia, o Grand Caravan 208B, é reconhecido por sua segurança. No entanto, em 2008, um incidente similar ocorreu quando a aeronave precisou realizar um pouso de emergência na Transamazônica, no Pará, devido a uma falha de manutenção que resultou em perda de óleo no motor.
O relatório mais recente do Cenipa, divulgado nesta quarta-feira (29), indica que 60% da investigação foi concluída. Contudo, o documento não estabelece um prazo para a conclusão do relatório final nem apresenta recomendações de segurança.
“Todos nós, parentes das vítimas, ainda aguardamos uma resposta. Dois anos se passaram e o que temos é o mesmo silêncio”, lamenta Rosiney Mendes, ecoando o sentimento de todas as famílias que perderam seus entes queridos na tragédia.
Foto: Ilustrativa