TECNOLOGIA
Sem Elon Musk, como fica o futuro do Twitter?
Três meses depois de ter feito uma oferta de US$ 44 bilhões pelo Twitter, Elon Musk, o homem mais rico do mundo, desistiu oficialmente do negócio. Em documento enviado à Securities and Exchange Commission (SEC, o órgão regulador do mercado americano), Musk afirma que a empresa “parece ter fornecido informações falsas e enganosas” e “não cumpriu com suas obrigações contratuais”.
O Twitter avisou que lutará na Justiça para que Musk cumpra o acordo de compra. “O Conselho do Twitter está comprometido em fechar a transação no preço e nos termos acordados com Musk e planeja entrar com uma ação legal para fazer cumprir o acordo de fusão”, disse Bret Taylor, presidente do conselho, em um tuíte.
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O motivo da desistência, segundo o documento, seriam as contas falsas ou de bots (robôs) na plataforma. O bilionário vinha criticando o Twitter nos últimos dois meses, afirmando que a quantidade de robôs era muito superior ao informado pela plataforma, segundo a qual seriam menos de 5% do total. Na quinta-feira, a plataforma afirmou que remove cerca de 1 milhão de contas falsas por dia.
Perda de valor
Quando a desistência, revelada primeiro pelo jornal The Washington Post, veio a público, as ações do Twitter chegaram a cair 6,7% nas negociações posteriores ao fechamento do mercado. No horário regular do pregão, os papéis recuaram 5,10%, a US$ 36,81 — 47% abaixo dos US$ 54,20 oferecidos por Musk em abril.
Essa queda no preço das ações e a dificuldade em ter o controle absoluto dentro do Twitter são algumas das razões apontadas por especialistas para a desistência de Musk. As contas falsas seriam uma desculpa. Andre Gildin, sócio da RKKG Consultoria e especialista em tecnologia e telecomunicações, cita ainda o recuo no valor dos papéis da montadora Tesla, a principal empresa do bilionário.
“As ações da Tesla caíram 30% nos últimos meses. O momento das empresas de tecnologia no mercado não é favorável. Então, na prática, ele estaria pagando muito mais do que a empresa está valendo. Além disso, tem a pressão dos acionistas da própria Tesla, já que Musk poderia reduzir o foco sobre a empresa”, explica Gildin.
Ele avalia ainda que Musk percebeu que não teria total liberdade no Twitter, já que os órgãos reguladores têm pressionado por limites. O bilionário defendia liberdade total na plataforma, o que gerou temor de proliferação de fake news e mensagens de ódio.
“Ao perceber que teria certos limites para redesenhar o Twitter, Musk começou a questionar informações públicas como o uso de contas falsas e de robôs. Alegou que não tinha recebido todos os números da plataforma”, diz Gildin.
Para Ronaldo Lemos, advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, o negócio já nasceu envolto em erros. Ele lembra que Musk demorou a informar à SEC que havia comprado uma participação relevante no Twitter.
Depois houve mudança do cenário econômico. O Federal Reserve (o banco central dos EUA) subiu os juros, e o dinheiro que era abundante secou. Era previsível que os juros iriam subir, mas, como ele é impulsivo, seguiu em frente. Foi um erro grosseiro. E agora inventa desculpas de contas falsas”, afirma Lemos.
Qual o futuro do Twitter
Sem Musk, analistas veem o futuro do Twitter com preocupação. Lemos lembra, por exemplo, que nos últimos meses a rede social mergulhou no caos, com a saída de diversos funcionários.
Para Gildin, o Twitter poderá ficar ainda mais para trás na disputa acirrada pela atenção dos usuários, hoje mais voltada para plataformas de vídeos curtos, como TikTok e Instagram.
“O Twitter nunca conseguiu encontrar um caminho virtuoso. As contas fantasmas também trouxeram mais dúvidas ao mercado. Além disso, com o avanço do conceito do metaverso e da Web 3.0, impulsionados pelo 5G, as plataformas de mensagerias vão ser trocadas pelas plataformas de mensagens dentro dos games e do metaverso”, diz Gildin.
Ele cita como exemplo o Roblox, muito usado por adolescentes. Em 2021, a plataforma registrou 2,5 bilhões de mensagens diárias, contra cerca de 500 milhões de tuítes diários no Twitter:
“Isso corrobora o fato de que, num futuro não muito distante o Twitter perde, sem Elon Musk, a batalha pela Web 3.0 e o metaverso.”
Daniel Ives, analista sênior da Wedbush Securities, vê um cenário de “desastre” para o Twitter e projeta que, na segunda-feira, as ações podem ficar entre US$ 25 e US$ 30:
“É um cenário de desastre para o Twitter e seu conselho, pois agora a empresa lutará contra Musk em uma longa batalha judicial para recuperar o acordo, ou a taxa de rompimento, de US$ 1 bilhão no mínimo.”
Ives se refere à cláusula segundo a qual, em caso de desistência, a parte que quebrasse o acordo pagaria uma rescisão de US$ 1 bilhão.
Curiosamente, Musk, que usa o Twitter para falar de tudo o que faz, na sexta-feira não se manifestou na plataforma. (*Com Bloomberg e agências internacionais)
Fonte: IG TECNOLOGIA