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CIDADES

Entenda os motivos das maritacas ‘comerem’ prédio no Tatuapé diariamente

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As maritacas, da espécie periquitão-maracanã (Psittacara leucophthalmus), têm feito ‘a festa’ em um prédio localizado no Tatuapé, na Zona Leste de São Paulo. Eles se juntam em bando na região e surpreendem até os moradores.

Localizado na Rua Aguape, o edifício, que tinha um tom mais alaranjado, passa a ganhar colorações esverdeadas. A reunião das aves verdes e berradoras –que amam bicar os tijolinhos que compõem a fachada do local–  acontece há alguns anos na região.

“Já aconteceu há alguns anos, mas a gente sempre se surpreende. É um barulho muito alto, a ponto de não conseguirmos ouvir a TV”, disse a professora Glória Alves, de 54 anos, que mora no bairro. “Tenho que deixar as janelas sempre fechadas, já aconteceu de eu receber uma visitinha na varanda, mas nunca chegaram a entrar”, concluiu.

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Quais motivos que podem levar as aves ‘comerem o prédio’?

De acordo com Fabio Schunck, ornitólogo do Laboratório do Museu Biológico do Butantan, o comportamento das maritacas observado no prédio do Tatuapé é comum, mas a sua causa ainda é desconhecida, gerando várias hipóteses.

Inicialmente, segundo o especialista, cogitou-se a possibilidade da geofagia, prática de comer terra, comum em aves da família Psittacidae, que inclui as araras, papagaios, periquitos e até os periquitões que visitam o prédio do Tatuapé. O comportamento visa reduzir ou neutralizar o impacto no organismo de outros alimentos ingeridos, neutralizando toxinas de algumas plantas, por exemplo, ou mesmo para compensar a deficiência de alguns nutrientes.

“Outra possibilidade é um comportamento comum nas aves, conhecido como ‘afiar a moela’, que consiste em comer algumas ‘pedrinhas’ junto com o alimento, pois como as aves não possuem dentes, é a moela que fica responsável em moer o alimento ingerido e, com algumas pedrinhas no seu interior, fica mais fácil fazer esse processo mecânico, sendo um hábito comum em galinhas”, afirmou o especialista.

Hípoteses parcialmente descartadas por Raquel Colombo Oliveira, bióloga com mestrado em Ecologia e Biodiversidade. “No prédio do Tatuapé, os periquitões-maracanã certamente não estão se alimentando dos tijolos da fachada. Se isto estivesse ocorrendo, certamente seriam visíveis as avarias, principalmente considerando que os bandos frequentam este local há muitos anos, talvez décadas”, pontua ela, que relaciona o comportamento das aves ao afiamento dos bicos.

“A interação dos periquitões com os tijolos possivelmente serve para desgastar o bico, afiando a ponta da mandíbula e maxila para deixar o bico em boas condições para obtenção de alimentos -lembrando que o bico dos psitacídeos é feito de queratina (assim como nossas unhas e cabelos) e está sempre se regenerando, crescendo”, explicou Oliveira.

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Hábito social?

Segundo a bióloga, a principal explicação para essa aglomeração na região seria o ‘comportamento social’ dessas aves. “A reunião dos grandes bandos na área dos prédios se dá por sua localização no entorno de um dormitório –área escolhida pelos bandos para se juntarem em segurança e repousarem a noite”, pontuou ela.

“É comum que psitacídeos se reúnam em áreas de dormitórios coletivos, que muitas vezes estão associados ao uso de palmeiras. Na cidade de São Paulo, outras espécies de psitacídeos como a maracanã-pequena (Diopsittaca nobilis) e o papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) também já foram registrados utilizando palmeiras como dormitório coletivo”, completou Raquel.

Como explica Schunck, é comum que os periquitões se reúnam tanto antes de voar para as áreas de alimentação, no início da manhã, como antes de seguir para o local de dormitório, no final do dia. Em ambientes naturais, essa reunião é realizada em árvores altas. Mas, na ausência de árvores altas, esse grupo escolheu o prédio como ponto de encontro.

“Como o local de dormitório fica ao lado do prédio, em palmeiras e árvores da região, parece que essas aves encontraram no prédio um local alto, seguro e fácil de se reunir, devido a estrutura e os sulcos existentes entre os tijolos, facilitando o pouso e a permanência por alguns minutos. Todas essas explicações são possibilidades, e só entenderemos melhor com a realização de estudos de médio e longo prazo no local”, argumentou.

 

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