CIDADES
Estudante de escola pública que tirou mil na redação do Enem diz que escrevia uma por semana e conta ‘táticas’ para nota máxima

Samille Leão Malta estava na academia quando recebeu uma mensagem da mãe com a nota que tirou na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024. “Foi um choque”, lembra. A jovem conquistou os tão sonhados 1.000 pontos e, depois, descobriu que foi a única estudante de escola pública a atingir a pontuação máxima naquela edição do exame. “Fiquei muito surpresa e emocionada, eu não esperava. Minha família também ficou muito feliz, todos choraram de emoção.”
A estudante de 20 anos é de Virginópolis (MG), mas, atualmente mora na capital Belo Horizonte, onde cursa Medicina, que era seu sonho, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ela foi aprovada utilizando a nota do Enem no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) no início deste ano.
Ao Terra, Samille relata como foi o seu processo de preparação para a redação do exame, as estratégias que usou para alcançar a nota mil no texto dissertativo-argumentativo e dá dicas para os candidatos que vão fazer as provas do Enem 2025, que serão aplicadas nos próximos dois domingos, 9 e 16 de novembro. No fim da matéria, leia também a íntegra da redação dela para se inspirar.
O mil veio após quatro tentativas
A jovem, que estudou todo o ensino médio em uma escola pública, atingiu a nota máxima na redação do Enem quando estava no último ano do colégio. Antes disso, porém, ela já tinha prestado o exame outras três vezes como treineira e tirado 920 pontos nos textos. “Antes, eu fazia as provas só como teste mesmo”, afirma.
Foi no último ano escolar que Samille focou totalmente na prova. Desde o início da preparação, a estudante tinha uma rotina diária de estudos para as quatro áreas do conhecimento e fazia redações. Ela conta, no entanto, que só a partir do meio do ano que dedicou mais tempo para o texto. “Quando estava estagnada em 920 e 960 nas correções da minha professora, eu queria me aperfeiçoar”, detalha.
Segundo a mineira, que teve o apoio de um cursinho online e aulas de redação com uma professora particular, toda semana ela escrevia um texto com as exigências do Enem. Ela recorda que revisava cada correção que a professora fazia e prestava atenção nos pontos que precisava melhorar.
“Minha professora corrigia todas as redações semanalmente, apontando pontos fortes e fracos. Com o tempo, passei a analisar minhas próprias redações com um olhar mais crítico, entendendo melhor os critérios e como aplicá-los”, diz a estudante.
O repertório para as redações também foi sendo construído dia após dia: lendo livros, assistindo séries e filmes e acompanhando notícias com frequência. “Eu procurava entender o contexto dos assuntos e relacionar com temas sociais. Além disso, eu priorizava usar referências que eu realmente dominava e já tinha estudado, porque isso me dava mais segurança na hora de articular o repertório com o tema da redação”, destaca Samille.
Qual é o ‘segredo’ para a nota máxima?
A agora estudante de Medicina acredita que foi um conjunto de fatores que a levaram a conquistar a nota mil no Enem 2024. Na edição, os participantes foram desafiados a refletir e escrever sobre os “desafios para a valorização da herança africana no Brasil”.
Entre os “segredos” para a pontuação máxima, Samille aponta disciplina, prática constante e atenção às orientações dos professores. “É importante treinar muito, revisar suas redações e aprender com os erros.”
Além desses três quesitos, para os estudantes que vão fazer o Enem 2025, a jovem pontua ainda que é muito importante “entender bem os critérios do Enem para fazer redações coerentes com a proposta da prova”. Veja aqui como fazer a redação passo a passo.
Leia a redação de Samille na íntegra
No período colonial brasileiro, a cultura dos indivíduos escravizados foi suprimida para facilitar a dominação e a exploração desse grupo pelos europeus. Apesar do lapso temporal, a desvalorização da herança africana permanece sendo uma realidade presente no país, assim como no contexto escravocrata, o que se configura como um problema que agrava a exclusão social dos cidadãos negros. Diante desse cenário, é essencial analisar a inoperância governamental e a falha do sistema educacional como fatores que intensificam tal revés.
Nessa perspectiva, o escasso interesse estatal se configura como um desafio para a resolução dessa problemática. Isso ocorre, porque, tal qual abordado pelo teórico Raymundo Faoro, o governo, muitas vezes, prioriza seus próprios interesses em detrimento das necessidades do povo. Em conformidade com Faoro, os políticos em exercício, ao se preocuparem apenas com seus proveitos pessoais, não tomam medidas efetivas para valorizar a herança africana, como investir na criação de espaços destinados a exposições culturais e artísticas dos cidadãos afrodescendentes. Sendo assim, a ineficácia governamental acarreta a marginalização social desse grupo, já que suas manifestações são negligenciadas e silenciadas, em um contexto que, mesmo após décadas da abolição da escravidão, continua perverso para a população negra.
Além disso, a falha do modelo educacional acentua a desvalorização das raízes da África no país. Nesse sentido, o sociólogo Émile Durkheim afirma que a escola é o segundo mecanismo de socialização do indivíduo, que molda seus hábitos e seus comportamentos. No entanto, as instituições de ensino promovem um ensinamento que aborda apenas a perspectiva eurocêntrica da história nacional e não retratam a contribuição do patrimônio africano para o desenvolvimento do Brasil. Dessa forma, a manutenção desse sistema de educação enfraquece o sentimento de pertencimento dos cidadãos afrobrasileiros e a formação de laços identitários, uma vez que perpetua o apagamento da memória negra ao não ensinar suas crenças e suas tradições.
Portanto, é necessária a adoção de medidas para combater os desafios para a valorização da herança africana. Logo, o Poder Executivo, responsável pelo bem-estar social, deve aumentar a visibilidade de exposições culturais dos cidadãos afro-brasileiros, por meio da criação de espaços públicos para essas manifestações, a fim de erradicar a exclusão social desse grupo. Ademais, as escolas devem inserir conteúdos que ensinem as crenças e as tradições dos negros para fortalecer seu sentimento de pertencimento. A partir dessas ações, o patrimônio desse grupo deixará de ser suprimido no Brasil como foi no período colonial.
Enem 2025
As provas do Enem 2025 serão aplicadas em dois domingos seguidos, nos dias 9 e 16 de novembro deste ano. No total, o exame tem 180 questões objetivas e uma redação, e é dividido da seguinte forma:
Primeiro dia do Enem – 9/11: prova conta com 45 questões de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; 45 questões de Ciências Humanas e suas Tecnologias; e a redação (texto dissertativo-argumentativo). O exame começa às 13h30 e termina às 19h.
Segundo dia do Enem – 16/11: prova traz 45 questões de Ciências da Natureza e suas Tecnologias; e 45 questões de Matemática e suas Tecnologias. O exame inicia às 13h30 e vai até as 18h30.
Nos dois dias, os portões dos locais de prova abrem às 12h e são fechados às 13h (horário de Brasília).
Em Belém, Ananindeua e Marituba (PA), a edição deste ano será aplicada nos dias 30 de novembro e 7 de dezembro, em razão da realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá na região, no período da aplicação regular do exame.









