Um outro detalhe importante é que o mar, além de imprevisível, por causa das ondas, também tende a ser frio. Isso é importante porque, ao nascer, o bebê perde muito calor. Por isso, as especialistas reforçam que o neném precisa ficar seco e aquecido o mais rápido possível depois do nascimento.
“Dentro do útero materno, ele está a uma temperatura materna, que é entre 36°C e 37°C. Quando ele nasce num ambiente mais molhado, ele acaba perdendo muito calor para o ambiente – e isso também prejudica a transição da vida fetal para a neonatal desses bebês”, explica a médica Romy Schmidt Brock Zacharias, coordenadora médica materno-infantil do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
“Então, é importante que tenha sempre um cuidado de colocar junto à mãe, no pele a pele, e secá-lo logo após o nascimento. A hipotermia no recém-nascido também é um fator que a gente precisa tomar cuidado”, reforça.
Falta de estudos e água contaminada
A possível contaminação da água também precisa ser levada em consideração, mas Zacharias aponta a falta de dados e estudos sobre o assunto.
“Até hoje, as sociedades médicas falam mais a respeito de parto nas águas doces, de banheira, então a até hoje não tem nenhum estudo ou uma intenção de estudo falando da questão de água do mar. O que a gente consegue é fazer um pouquinho de um paralelo”, explica a médica do Einstein.
Ela aponta, por exemplo, que as entidades veem benefícios em ter o primeiro e o segundo estágios do parto na água (doce) – mas que, na fase expulsiva, em que o bebê sai, há o risco de infecção.
“A água do mar é contaminada – não tem uma garantia que ela seja isenta de bactérias e até outras substâncias. A gente realmente não pode afirmar – porque não tem dados sobre isso – se o bebê não está sujeito a outro tipo de problema. Realmente não tem dados sobre isso”, completa Zacharias.
Larissa Cassiano aponta, por outro lado, que existem muitas praias contaminadas e inapropriadas para banho.
“Expor uma gestante, um recém-nascido, a esse local, a gente aumenta muito o risco de infecção – para ela, pelo canal de parto, pro recém-nascido. Aqui no Brasil, por exemplo, se a gente for pensar, a gente não tem equipes habilitadas para esse tipo de assistência ao parto – está aumentando riscos [ao fazer isso]”, lembra.
“Mas, se a paciente se sente segura para isso, se ela tem uma equipe que consiga ajudar e ela quer, é difícil dizer que tem um problema”, pondera.
Já Betina Abs vê o cenário de outra forma.
“Se vai fazer mal pro bebê, vai fazer mal pra mãe também, então ela nem devia ter entrado na água. Se a água está contaminada, está para todos. Eu imagino que ela não tenha entrado numa água contaminada. Ela não foi pra Santos, não foi pra Guarujá [cidades no litoral de São Paulo]”, argumenta.
“Não que eu ache que a gente tem que sair por aí fazendo partos no mar – porque, normalmente, quando você está numa praia, é um parto desassistido”, reforça.
“A vagina só abre quando a cabeça do bebê vai passar – e aí a cabeça do bebê tá funcionando como uma rolha. Nada vai entrar dentro dela. Se ela tiver uma laceração, bom, vai ser algo mais superficial, mais na pele, aí a água do mar realmente não é muito boa, teria que lavar depois e dar o ponto”, conclui Abs.