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Quem foi Nossa Senhora Aparecida? Por que a padroeira do Brasil é negra?

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Foto: divulgação

Todo ano, às vésperas de 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida, dezenas de milhares de romeiros caminham às margens da Rodovia Presidente Dutra em direção ao Santuário Nacional de Aparecida (SP).

Nossa Senhora Aparecida é uma das principais santas católicas e tem o título de padroeira do Brasil. Representada pela imagem de uma mulher negra, é requisitada por fiéis em momentos de aflição.

Qual a origem de Nossa Senhora Aparecida?

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A história é conhecida: a imagem da santa foi encontrada por pescadores em 1717 nas águas do Rio Paraíba do Sul, no interior de São Paulo. João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia “pescaram” primeiro o corpo, depois a cabeça da santa.

O mais provável é que ela tenha ido parar no rio após ser descartada por estar quebrada. A aparição no rio fez com que ganhasse o nome de Aparecida e, a partir dela, as redes dos três homens teriam se enchido de peixes, o que foi considerado seu primeiro milagre.

Pesquisadores têm duas hipóteses sobre o tom de pele da imagem. Originalmente, ela seria uma representação de Nossa Senhora da Conceição, que é branca, mas teria escurecido com o tempo passado submersa no rio.

Outra narrativa atribui sua cor à fumaça das velas do oratório montado na casa de um dos pescadores, onde a santa permaneceu até ser transferida para uma nova capela em 1745. Com o passar dos anos, essa capela se tornou um local de peregrinação até que, em 1928, Aparecida se tornou município.

Negritude da santa foi exaltada e ignorada

Foto: divulgação

Em um país com expressiva população negra, onde o sistema escravista vigorou por mais de um século após o surgimento da santa, muitos se viram representados nela. Assim, Nossa Senhora Aparecida se tornou também um símbolo de libertação e acolhimento para as pessoas negras.

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“De cor escura, a figura materna foi rapidamente associada à população marginalizada e escravizada”, escreve o professor da Faculdade de Educação da USP Rosenilton de Oliveira, na tese de doutorado “A cor da fé: ‘identidade negra’ e religião”. Em liturgias afro, o pesquisador lembra que a santa recebe títulos como “Mãe Quilombola” e “Mãe Negra Aparecida”.

Os significados de sua imagem são alvo de negociações entre autoridades religiosas, movimentos negros, setores católicos e políticos desde o século 18 até hoje. Segundo o historiador Lourival dos Santos, autor do livro “O enegrecimento da Padroeira do Brasil”, Nossa Senhora Aparecida ainda era representada como uma virgem europeia na virada do século 19, mas acabou sendo consagrada como avatar negro no seguinte.

Ao longo do tempo, ela recebeu diferentes representações imagéticas e teve sua negritude exaltada ou silenciada nas falas de devotos e em canções. Lourival esclarece que foi só a partir da teologia da libertação, movimento social cristão que se fortaleceu nos anos 1960, que a Padroeira enegreceu definitivamente nos cânticos e invocações.

Esse enegrecimento aconteceu em paralelo à valorização de manifestações culturais negras como parte da identidade nacional, como por exemplo o samba, a capoeira e a feijoada. O historiador destaca que isso se deu a partir da década de 1930, quando também ocorreu a ordenação da santa como Padroeira do Brasil.

Libertadora dos escravizados

Entre as histórias de milagres concedidos pela santa, há o relato da libertação de um escravizado chamado Zacarias. Ele voltava acompanhado de um feitor para a fazenda de onde fugira, acorrentado, quando passou pela capela construída para abrigar a santa e pediu permissão para rezar. Zacarias teria se ajoelhado diante de Nossa Senhora Aparecida, e com sua prece, as correntes se soltaram e ele se tornou livre.

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