Militares atuaram, em nome de empresa, para direcionar compra de coletes pelo Gabinete de Intervenção investigada pela PF
Publicado em
13 de setembro de 2023
por
Extra Globo
Dois coronéis da reserva trabalharam ativamente para direcionar, em nome da empresa americana CTU Security LLC, a compra de 9.360 coletes balísticos pelo Gabinete de Intervenção Federal (GIF) em 2018. Segundo um relatório da Polícia Federal, o oficial da reserva da Aeronáutica Glaucio Octaviano Guerra — que assinou documentos que fazem parte da aquisição como “consultor” da CTU — foi o principal operador da fraude. Já o coronel da reserva do Exército Diógenes Dantas Filho, que compareceu a sessões públicas do processo de compra em nome da empresa, atuava como lobista junto aos militares do GIF e trabalhou, segundo a PF, para enquadrar as especificações do colete de acordo com aqueles fornecidos pela empresa.
A investigação que culminou na Operação Perfídia — que cumpriu 16 mandados de busca e apreensão nesta terça-feira — apontou que houve um sobrepreço de R$ 4,6 milhões na compra dos coletes pelo GIF. O acordo acabou cancelado por suspeitas de irregularidades, e todo o valor pego pelo governo foi estornado.
A investigação teve início a partir da apreensão do celular do coronel Glaucio Guerra, em agosto de 2022, pela Agência de Investigações de Segurança Interna americana (HSI, na sigla em inglês). O oficial — que mora nos Estados Unidos desde 2013 — era suspeito de ligação com a CTU, apontada pelas autoridades americanas como responsável por fornecer logística militar para o homicídio do presidente do Haiti Jovenel Moise, em julho de 2021. As mensagens extraídas do aparelho foram compartilhadas com a Polícia Federal.
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A análise dos diálogos revelou como a fraude foi orquestrada. Segundo a investigação, Glaucio era o responsável “por todo o estudo financeiro, confecção dos contratos, documentos e prospecção de empresas estrangeiras para fornecimento de materiais diversos, além de captar, supostamente, investidores para financiar os custos de produção”. Segundo os investigadores, uma das conversas comprova que o militar sabia previamente do resultado da concorrência. Em 13 de dezembro de 2018, Glaucio informou ao lobista Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano — condenado no âmbito da Operação Lava Jato e apontado pela PF como um dos investidores da operação que culminou na fraude — que eles haviam ganhado a licitação. O resultado da concorrência só seria tornado público duas semanas depois.