POLÍCIA
Preso há quase 4 meses, sargento de trisal que atirou em estudante no AC entra com novo pedido de soltura
A defesa do sargento da Polícia Militar Erisson Nery, que atirou no estudante Flávio Endres Ferreira, de 30 anos, no interior do Acre, entrou com um novo pedido de revogação de prisão. O militar está preso desde novembro do ano passado pelo crime. A vítima levou ao menos quatro tiros e ficou com sequelas em uma das mãos.
O sargento ficou conhecido nas redes sociais após assumir um trisal com a mulher, também sargento da PM, Alda Nery, e a administradora Darlene Oliveira. Os três moravam na cidade de Brasileia, no interior, e há alguns meses, a sargento fazia tratamento psicológico, quando o casal voltou a gerar polêmica ao surgir boatos de separação.
Ao g1, a advogada de Nery, Helane Christina, confirmou que entrou com o pedido no último dia 18 e aguarda o julgamento da Justiça. O novo pedido foi encaminhado recentemente para o Ministério Público Estadual (MP-AC).
O sargento segue preso no Batalhão de Operações Especiais (Bope), em Rio Branco, desde o dia 29 de novembro. No dia 10 de dezembro, uma portaria publicada no Diário Oficial do Acre afastou o sargento dos batalhões policiais.
No dia 31 de janeiro, a defesa do militar já tinha entrado com um pedido para que a prisão preventiva fosse convertida em domiciliar ou em monitoramento por tornozeleira eletrônica. O pedido foi negado pelo Poder Judiciário.
O MP-AC chegou a se manifestar contrário ao pedido da defesa do militar.
“Fizemos um novo pedido de revogação de prisão do mesmo, haja vista, inclusive, já está com toda família residindo em Rio Branco e outros requisitos autorizadores da concessão como preceitua os artigos 321, 282, parágrafo 6º do CPB [Código Penal Brasileiro] e muitos outros”, destacou.
Denúncia
Em fevereiro, a juíza Joelma Ribeiro Nogueira, da Comarca de Epitaciolândia, interior do Acre, aceitou a denúncia do MP-AC contra o sargento.
Agora réu, Nery responde pelos crimes de tentativa de homicídio qualificado por motivo fútil e recurso que impossibilitou a defesa da vítima; porte irregular de arma de fogo de uso permitido; e por lesão corporal de natureza grave.
A denúncia do Ministério Público, assinada pelo promotor Rodrigo Fontoura de Carvalho, foi feita à Justiça no dia 18 de janeiro. Na decisão, a magistrada deu um prazo de 10 dias para a defesa do militar responder às acusações.
O sargento também já responde a um processo por ter matado um adolescente de 13 anos em 2017, quando o menino tentou furtar casa dele. Mais de quatro anos após o crime, o policial ainda não foi julgado. O Ministério Público do Acre (MP-AC) fez a denúncia em julho do ano passado pelos crimes de homicídio e fraude processual e a denúncia foi aceita um dia depois pela Justiça.
Inquérito desmembrado
No decorrer das investigações, a polícia percebeu que seria necessário também investigar a sargento da PM-AC e esposa de Nery, Alda Radine. Por isso, o inquérito foi desmembrado e instaurado um outro procedimento para apuar a conduta da militar por fraude processual, lesão corporal e denunciação caluniosa.
“No decorrer do inquérito como vimos que a arma permaneceu com a Alda no final dos vídeos, teve também uma requisição judicial para apurar a conduta dela. Somado também à questão dela ter feito agressões contra a vítima que já estava desfalecida no chão, conforme as imagens, e ainda nós termos constatado que a denúncia que ela fez foi falsa, quando disse que a vítima a teria importunado sexualmente e isso não aconteceu. Então, desmembramos o inquérito”, disse a delegada Carla Ívane, que presidiu as investigações.
Atualmente, o inquérito de Alda está sob responsabilidade do delegado Luis Tonini. A reportagem também não conseguiu contato com a defesa dela.
Outro ponto que a polícia precisa solucionar é sobre o paradeiro da arma utilizada pelo sargento Nery no crime. No dia em que foi preso e ouvido, o militar ficou em silêncio sobre a arma. Ele e a esposa estavam afastados dos cargos por questões de saúde e as armas institucionais foram recolhidas.
Relembre o caso
No dia 27 de novembro do ano passado, o sargento Nery se envolveu em uma confusão em um bar na cidade de Epitaciolândia, no interior do Acre, que acabou com o estudante Flávio baleado. No dia 29, o militar foi preso e ouvido na delegacia do município, enquanto um grupo de amigos fazia protesto e pedia justiça.
Vídeos que circularam na internet mostram o momento da confusão dentro e fora do bar. Uma das imagens mostra o sargento Erisson Nery armado após atirar contra o estudante e, em outro vídeo, é possível observar que a vítima foi agredida inicialmente pela sargento da PM Alda Nery, mulher do policial.
Nery, porém, alegou que reagiu a uma importunação sexual feita pelo homem contra sua mulher, a administradora Darlene Oliveira. Mas, um vídeo do interior do bar onde ocorreu a confusão mostra que a vítima foi agredida inicialmente pela sargento da PM Alda Nery.
As imagens confirmam o depoimento da equipe que fazia a segurança no local. No depoimento, um dos seguranças diz que o sargento acusava o pessoal da mesa ao lado de estar olhando de forma desrespeitosa para a mulher dele. O segurança tentou acalmar o sargento, mas ele continuava alterado.
Alda e o sargento ficaram conhecidos nas redes sociais após assumirem um relacionamento a três com Darlene.
‘Não fiz nada’
Após passar por uma cirurgia na região do abdômen e ficar nove dias internado no pronto-socorro de Rio Branco, o estudante Flavio recebeu alta no dia 7 de dezembro.
O estudante disse que foi convidado pelos amigos para ir ao bar e saiu antes de acabar o jogo, porque tinha um compromisso da faculdade e ficou cerca de 2 horas fora e retornou para deixar um colega e resolveu entrar novamente para ver se os amigos estavam bem.
“Nisso, quando cheguei lá, já tinha percebido que eles [os amigos] não estavam muito bem e perguntei o que tinha acontecido e fiquei sabendo que o Nery já tinha ido lá e chutado a mesa deles e poucos minutos depois de me falarem isso, veio a mulher dele e me deu um soco na cara. Me assustei e no puro reflexo, empurrei ela e ele já chegou sacando a arma e efetuou o disparo”, contou.
Depois do primeiro disparo, ele relembrou que tentou sair, mas não teve tempo e foram feitos os outros dois e ele caiu. Já no chão, ele foi atingido pela quarta vez e foi agredido e chegou a ter os dentes quebrados.
“Mesmo no chão, eles me bateram, chutaram bastante. Uma pergunta que gostaria de fazer para eles: o que levou a tentarem acabar com minha vida? Porque realmente não fiz nada a eles, se quer olhei com olhar torto para eles. Não entendo o que pode ter movido para fazer algo assim comigo”, questionou.
Sobre o suposto assédio, ele negou a acusação. “Fiquei boa parte do tempo assistindo ao jogo sentado, não assediei ela não. Fiquei magoado porque não é do meu caráter fazer algo assim, sou contra qualquer abuso ou violência contra a mulher. Acredito que quis dar uma justificativa para corrigir o que fizeram. E que não contavam com as imagens do local e o respaldo de falar do assédio não justificou.”