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Quatro dias de espera, sem dinheiro e só com a roupa do corpo: o drama da mãe de Leonardo nas buscas pelo filho desaparecido no mar

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Quando Alessandra da Silva saiu pela porta principal do Instituto Médico-Legal do Rio, às 19h30 desta quarta-feira, segurando o atestado de óbito do filho, não havia lágrima, dor ou alívio em seu rosto. Por quatro dias, a auxiliar de cozinha de 38 anos fincou os pés na areia de Ipanema, acompanhando as buscas por Leonardo, de 16 anos, desaparecido no mar durante a ressaca do domingo. Ela estava há três dias sem dormir, sob angústia de não saber onde estava o caçula. Saiu às pressas de Resende, no Sul Fluminense, sem dinheiro e só com a roupa que vestia assim que soube do ocorrido. Agora, com o corpo do adolescente identificado, o que Alessandra demonstrava, no pátio do IML, era uma pressa misturada com revolta, enquanto ligava para os parentes e dizia que o seu menino, que havia escapado da vigilância materna para ver o mar pela primeira vez, estava voltando morto para casa.

O traslado do corpo de Leonardo está previsto para hoje. A prefeitura de Resende informou, por meio de assessoria, que irá custear o funeral e o transporte da família de volta para a cidade.

Na última terça-feira, em entrevista ao EXTRA, Alessandra disse que queria encontrar logo o menino e voltar para a cidade onde mora. Ontem, não quis falar. O olhar ora vagava no horizonte da praia lotada em plena quarta-feira, ora encarava o chão. Virava o pescoço para um lado, depois para outro, evitando olhares.

Leonardo Tavares da Silva, de 16 anos, desapareceu no mar de Ipanema, na Zona Sul do Rio — Foto: Arquivo pessoal
Leonardo Tavares da Silva, de 16 anos, desapareceu no mar de Ipanema, na Zona Sul do Rio — Foto: Arquivo pessoal

Como o filho, ela também nunca tinha ido à praia. Abalada, ela sequer quis se aproximar da beira do mar, ainda agitado com resquícios da ressaca que levantou ondas de até 3,5m.

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Ela soube que Leonardo tinha se afogado pelas mães dos colegas dele que também vieram com a excursão. Segundo ela, ninguém da empresa de turismo ou do ônibus a procurou.

Sem ter para onde ir, ficou abrigada em Santa Teresa, na casa de Vânia Santana, conhecida como Vânia Vitoriosa, dona de uma barraca no posto 9, que se compadeceu e hospedou Alessandra e quatro parentes. Todos voltaram para Resende, anteontem. A mãe ficou. Sem dinheiro para despesas básicas como alimentação ou deslocamento, ela continuou contando com a solidariedade da comerciante.

A angústia de não saber o paradeiro do filho transformou em tortura a rotina que se seguiu: Alessandra chegava na praia às 7h, assim que os bombeiros davam continuidade ao trabalho de buscas, e só ia embora depois das 17h, quando paravam de procurar.

Alessandra e o filho Leonardo — Foto: Arquivo pessoal
Alessandra e o filho Leonardo — Foto: Arquivo pessoal

Leonardo era estudante do 1º ano do Ensino Médio. Segundo a mãe, era um adolescente estudioso, muito alegre, que adorava jogar futebol e recebeu vários troféus e medalhas em competições amadoras. Ele disse à mãe que ia jogar videogame e dormir na casa de um amigo, no sábado. No domingo, às 3h, eles embarcaram no ônibus da excursão. Leonardo não tinha documentos ou autorização da mãe. Por volta das 7h, ele teria chegado ao Rio.

O adolescente desapareceu, segundo relatos, quando o mar avançou para a areia. No domingo, o mar estava agitado por conta de um ciclone que se formou. Vídeos gravados nas praias da Zona Sul do Rio e de câmeras de segurança de prédios na orla mostraram a força da água. Leonardo e mais dois jovens foram arrastados pelas ondas. Dois chegaram a ser resgatados com vida.

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